29 novembro 2012

FÉ: VIDA

“Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé” (Hc 2.4; Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.38).

Quando o Espírito Santo repete com frequência o que diz, está apelando, desse modo, para nossa atenção especial. Uma doutrina declarada com tanta frequência deve ser pregada constantemente. Uma doutrina declarada com tanta frequência deve ser recebida por cada um de nossos ouvintes sem a menor hesitação.

Se lermos com precisão, verificaremos que a Bíblia não contém repetições. O contexto dá novo sentido a cada aparente repetição.

Nosso primeiro texto (Hc 2.4) apresenta a fé como algo que capacita o homem a viver em paz e humildade, conquanto a promessa ainda não tenha chegado a seu cumprimento. Enquanto esperamos, vivemos pela fé e não pela vista. Somos, desse modo, capazes de resistir em face dos triunfos temporários dos maus. Desse modo, somos preservados da impaciência orgulhosa em face da demora.

Nosso segundo texto (Rm 1.17) apresenta a fé como algo que opera a salvação do mal que há no mundo, mediante a lascívia. O capítulo em que esse versículo se encontra apresenta terrível visão da natureza humana, e significa que somente a fé no evangelho pode trazer-nos fé, na forma de:

Esclarecimento mental da vida, no que concerne ao verdadeiro Deus (Rm 1.19-23);

Pureza moral da vida (Rm 1.24 e ss.).

Nosso terceiro texto (Gl 3.11) apresenta a fé como algo que nos traz a justificação que nos salva da sentença da morte. Nada pode ser mais claro, mais positivo, mais completo do que essa declaração de que ninguém é justificado diante de Deus, exceto pela fé. Tanto a negativa quanto a positiva são bastante claras.

Nosso quarto texto (Hb 10.38) apresenta a fé como a vida da perseverança final. Há necessidade de fé, enquanto aguardamos o céu (vv. 32-36). A ausência de tal fé nos levaria a retroceder (v. 38). Esse retrocesso seria um indício fatal. Esse retrocesso nunca pode ocorrer, pois a fé salva a alma de todos, mantendo seu rosto voltado até o fim, para o céu.

Que pode fazer aquele que não tem fé?

De que outro modo pode ser aceito por Deus?

Em que base pode desculpar sua descrença em seu Deus?

No Talmude, os judeus têm esta declaração: “Toda a lei foi dada a Moisés no Sinai, em seiscentos e treze preceitos”. Davi, no salmo 15, os reduz a ONZE. Miqueias, a TRÊS (6.8). Isaias, a dois (5.6). Habacuque, a este: “O justo viverá pela sua fé” (Lightfoot).

Crer em Deus não é coisa de somenos; é o indício de um coração reconciliado com Deus, o sinal da verdadeira espiritualidade da mente. É a essência da verdadeira adoração, a raiz da obediência sincera. Aquele que crê em Deus, a despeito de seus pecados, presta-lhe maior honra do que querubins e serafins em sua contínua adoração.

Pequena coisa é a fé! Como é, então, que a descrença é crime tão grande que está marcada para reprovação, como mal condenatório, que exclui os homens do céu? Seja lá o que for que ponha em segundo lugar, dê à fé a primazia. Ela não é coisa vã, pois é a sua vida.

Spurgeon, C.H. Esboços Bíblicos: de Gênesis a Apocalipse: aprendendo com o príncipe dos pregadores / C. H. Spurgeon; Luis Aparecido Caruso [trad.]. – São Paulo: Shedd Publicações, 2002 pp 163-165.