19 janeiro 2011

A "Coisificação" do Ser Humano

A "coisificação" do Ser Humano
(por Vinícius Juberte) 

Há tempos estava precisando colocar algumas idéias que borbolham aqui dentro da minha cabeça em um texto. Por diversos fatores me senti na necessidade de discorrer sobre a nossa sociedade e o caminho que ela tem seguido. Deixo aqui explícito a influência de um livro chamado "Como Me Tornei Estúpido", de um autor frânces chamado Martin Page, o qual recomendo a leitura enfaticamente. Além disso um quê da teoria de Marx sobre o "fetichismo" e experiências pessoais recentes dão forma ao que quero expor aqui.

Pois bem, ultimamente eu tenho observado e percebido como a cada dia que passa mais e mais as pessoas se tratam como mera mercadoria. É exatamente isso, a "coisificação" do Ser Humano. Assim como a ânsia pela novidade é o motor propulsor da sociedade de consumo, assim se dá também nas relações inter-pessoais. Assim como parece ser absolutamente necessário trocar um IPod de 2 gigabytes por um de 3 pelo simples fato de não poder ficar "defasado", também é necessário trocar as pessoas da nossa vida, afinal de contas, a amizade e o amor são valores por demais demodês para essa sociedade tão "dinâmica" e consumista. O Ser Humano dentro de uma lógica de hipervalorização do individualismo vem perdendo a capacidade de se ver como ser social. Ou seja, vem perdendo um traço essencial de sua natureza. Pois sem viver em sociedade e pela sociedade o Homem se vê sozinho e sem função, daí podemos entender, ainda que parcialmente, um dos motivos do acometimento de grande parte da Humanidade pela depressão e o uso em massa de remédios como o Prozac. Existem discursos político-ideológicos que corroboram que é da "natureza humana" ser individualista e competitivo. E eu aqui não nego que geneticamente o Homem tem como função primordial a sua sobrevivência e perpetuação. Mas é evidente que essas duas coisas não se dão no campo do isolamento e sim no da interação. Sendo assim fica claro a fragilidade de tal argumento. É evidente que o atual quadro de individualismo crônico não se dá puramente por um pretenso determinismo biológico como muitos querem, e sim pela construção de um discurso sócio-cultural e ideológico que faz com que tal quadro apareça como "natural" e se reproduza indefinidamente. E fica claro onde tal discurso é produzido e reproduzido: Na educação "instrumental" voltada para a formação de mão-de-obra ao invés de se voltar a formação emancipatória do indivíduo, onde os valores do sistema são "internalizados" pelas pessoas, passando a ser interpretados como verdade absoluta, e não como um determinado tipo de construção cultural. E em segundo lugar na chamada "indústria cultural", com destaque para a mídia impressa e televisiva.

Pois bem, tal quadro limita o Homem na sua interpretação e na sua vivência com o mundo.O macro(sociedade) é subordinada ao micro(indivíduo). Isso projetado as relações inter-pessoais causam resultados e distorções alarmantes. Em outras palavras, a Humanidade vem perdendo o seu poder de enxergar as coisas de maneira ampla.Vivemos na Era do micro-amor, da micro-amizade, da micro-vivência. Aqui coloco um outro discurso que mesmo que de maneira indireta legitima tal estado de coisas: O discurso da curiosidade e da busca do prazer. É claro que tanto um quanto o outro são intrínsecos a formação humana, o problema é a maneira como ambos são colocados hoje. Ambos servem a já citada "coisificação" das pessoas. As relações pouco duráveis, que também podem ser chamadas de "relações líquidas", são legitimadas justamente por essas duas coisas: a curiosidade e o prazer. O grande problema é a superficialidade de ambos hoje. Em um exemplo prático: Uma pessoa em uma balada que beija inúmeras pessoas, contando com afinco o número de pessoas beijadas, mas pouco se importando com o nome das mesmas, por exemplo. Essa pessoa muito provavelmente irá legitimar o seu ato com o argumento de que é livre para buscar o prazer e novas experiências da maneira que bem entender. Pois bem, fora a questão do "ser livre" que é bastante questionável, essa pessoa ao usar tal argumento não percebe que de certa maneira está sendo contraditório. Ao não tentar ao menos se aproximar mais de uma das pessoas beijadas, perguntando seu nome, seus gostos e aflições essa pessoa não percebe a quantidade de novas experiências que está deixando escapar. É a curiosidade "utilitarista" e a busca do prazer "imediatista" presente no nosso cotidiano que impede as pessoas de pensarem no momento seguinte e de se reconhecerem, de fato, como pessoas e não como meros objetos descartáveis. Algumas poucas experiências ali naquele momento já bastam. E tais experiências logo devem dar lugar a outras experiências pouco relevantes, e assim sucessivamente. É a busca incessante pela novidade. É o mesmo mecanismo presente na troca do carro 2009, pelo carro 2010.Independentemente se o 2009 estava em boas condições de uso, o que importa é a novidade, é o "estar na moda".A grande maioria das pessoas têm agido exatamente assim umas com as outras.

É evidente que o valor de uma verdadeira amizade e de um verdadeiro amor estão se perdendo. O que entendo por "verdadeiro" nesses dois casos é levar a cabo a experiência da amizade e do amor até as últimas consequências. É extrair de ambos o máximo para um crescimento humano qualitativo. O que isso significa? Significa que a amizade e o amor não podem ser esses da "balada", efêmeros. Eles devem ser relações construídas dia após dia, com uma proximidade crescente entre as duas partes. É só nessa construção, ao meu ver, que tanto a curiosidade do aprender e a busca pelo prazer se tornam plenos. Tanto a curiosidade quanto o prazer só se satisfazem através de uma troca de experiências recíproca e contínua entre os indivíduos. E ambos aqui entendo em todas as suas vertentes: sociais, intelectuais, sexuais, entre outros. Mas para isso se concretizar é preciso uma tomada de consciência que leve a mudança das relações entre os Homens. Em outras palavras: é preciso quebrar a lógica do Capital. E o debate de como fazê-lo é amplo, mas ficará para uma outra discussão.

É imprecindível que as "relações líquidas" se tornem "relações sólidas" para o verdadeiro crescimento e emancipação do Ser Humano, que só pode se dar através da sociedade, no seio da coletividade.

Vinícius Juberte
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Recebi por e-mail da Ana Cláudia

Paulo Adriano Rocha
NINGUÉM PODE TE AMAR COMO JESUS TE AMA!
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2 comentários:

Moyses Godoi disse...

Texto para nos levar a profundas reflexões, todos são sujeitos a essa "coisificação", pois a modernidade anda de mãos dadas com ela; além disso fiquei muito curioso para ler o livro, procurei na nuvem, fiz o download e vou ler a história de "Antoine" se gostar vou comprá-lo!

Graça e Paz...

Vinícius Juberte disse...

Olá,

Sou o autor desse texto, e muito me alegrou vê-lo publicado aqui. Deixo abaixo o endereço do meu blog: http://www.rebeldialibertaria.blogspot.com.br/

Um abraço!